Canibalismo tecnológico: Cientistas criam robô capaz de se alimentar de outros para se curar e evoluir

Investigadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, desenvolveram um robô inovador que promete transformar a forma como entendemos a autonomia das máquinas. Chamado Truss Link, este robô tem a capacidade de se curar e crescer ao incorporar partes de outros robôs que estejam danificadas ou desativadas, num processo que os cientistas descrevem como “metabolismo robótico”.

Pedro Gonçalves
Julho 24, 2025
14:44

Investigadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, desenvolveram um robô inovador que promete transformar a forma como entendemos a autonomia das máquinas. Chamado Truss Link, este robô tem a capacidade de se curar e crescer ao incorporar partes de outros robôs que estejam danificadas ou desativadas, num processo que os cientistas descrevem como “metabolismo robótico”.

Feito com estruturas modulares compostas por varas magnéticas, o Truss Link é capaz de se adaptar ao ambiente físico, passando de uma forma plana para uma estrutura tridimensional. Mas o seu verdadeiro avanço está na forma como detecta, se aproxima e se funde com componentes soltos de outros robôs próximos, absorvendo-os para colmatar falhas ou melhorar o seu desempenho. Em situações em que uma parte se torna disfuncional ou obsoleta, o robô consegue descartá-la e substituí-la, como se tivesse um sistema de regeneração inspirado em organismos vivos.

Num vídeo divulgado pela equipa da Columbia Engineering, o Truss Link é mostrado a incorporar um novo segmento e a utilizá-lo como apoio para caminhar, conseguindo assim aumentar a sua velocidade em mais de 50%. Segundo os investigadores, esta capacidade de transformação e adaptação não é apenas uma curiosidade tecnológica, mas uma das chaves para que a inteligência artificial ganhe um novo tipo de presença no mundo real.

“O verdadeiro significado de autonomia é que os robôs não só devem pensar por si, mas também sustentar-se fisicamente”, explicou Philippe Martin Wyder, investigador principal do projeto, com ligações também à Universidade de Washington. Para Wyder, este tipo de robótica representa uma nova geração de máquinas capazes de combinar processamento cognitivo e adaptação física, numa interface mais direta entre o mundo digital e o físico. “O metabolismo robótico oferece uma ponte entre a inteligência artificial e o mundo material, permitindo que a IA não apenas evolua mentalmente, mas também fisicamente”, acrescentou.

As implicações desta tecnologia são vastas. O Truss Link poderá ser utilizado em contextos extremos e imprevisíveis, como operações de salvamento em zonas de catástrofe, investigação marinha em grandes profundidades ou até missões espaciais. Graças à sua estrutura flexível e regenerativa, poderá construir ou reconstruir-se em resposta a alterações ambientais ou a danos imprevistos, sem necessidade de intervenção humana.

“Esta inovação abre caminho para um futuro onde a inteligência artificial não só escreve textos ou gera imagens, como também constrói robôs ou estruturas com as suas próprias ‘mãos’”, afirmou Wyder, sublinhando o potencial transformador desta abordagem.

A evolução da inteligência artificial tem permitido tornar a robótica mais acessível e programável. Segundo Rev Lebaredian, vice-presidente da Nvidia para tecnologias de simulação, “agora temos a tecnologia para tornar os robôs programáveis de forma geral, ao ponto de pessoas comuns — e não apenas engenheiros especializados — poderem trabalhar com eles”. A fusão entre IA e sistemas físicos adaptativos, como o Truss Link, poderá assim inaugurar uma era em que os robôs se tornam parceiros autónomos em tarefas complexas, adaptando-se e transformando-se com uma agilidade que até agora só existia no reino biológico.

O Truss Link representa, assim, muito mais do que um robô sofisticado. É um passo em direção a um novo paradigma, onde máquinas não só raciocinam, mas sobrevivem, evoluem e se reinventam em tempo real. O que hoje parece uma forma primitiva de “canibalismo” robótico poderá, no futuro, ser a base de ecossistemas de máquinas verdadeiramente independentes.

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